segunda-feira, maio 17

A velha.

       Ela estava sempre ali, com sua vassoura na mão, as pantufas de pano rasgadas, a saia puída e uma camisolinha furada por cima de tudo. O cabelo todo fios brancos revoltos, a pele já muito enrugada e pintada do sol, as feições cansadas e sofridas.
       Toda manhã eu passava por esta senhora intrigante. Sempre a varrer as folhas secas que caíam da árvore em frente a seu portão. Tão velha, tão maltrapilha, tão triste visão.

       Passei cerca de um ano presenciando esta cena, por volta das 7h30, enquanto corria para a aula. Minha primeira impressão não foi nem a curiosidade, foi a estranheza. Um dia passei a refletir sobre isto depois de passar por ela, a caminho da faculdade: Será que mora sozinha, essa pobre senhora? Não há alguém mais jovem na casa que faça esse trabalho para ela? Será que são eles que a mandam varrer para ocupá-la de alguma forma? Ela gosta de juntar as folhas?
       Enfim, passavam muitas possibilidades na minha cabeça, mas nunca me preocupei seriamente. Não era da minha conta. Apenas curiosidade.

       O ritmo dos estudos aumentaram com o passar dos semestres. As noites em claro passaram a ser frequentes e com isso, o despertar em cima da hora da aula, também. Passei a pegar atalhos para chegar mais rápido. Com o tempo, parei de ver aquela cena matinal que me alimentava a curiosidade e, por fim, esqueci do fato.

       Até que me habituei a dormir pouco e voltei à rotina de caminhar pelo mesmo caminho de antes e ir observando os vizinhos que saíam para o trabalho ou levavam seus filhos à escola.
Foi quando me lembrei que havia uma senhora muito velha que varria sua calçada de manhã e passei por sua casa buscando, com os olhos, sinal de movimento nas janelas. Nada.

       As folhas jaziam em montes cobrindo as raízes da árvore, por toda a calçada... E também as castanhas preenchiam o chão. Pareciam não ser juntas há dias.

       Dali para a frente, a caminho da faculdade, a imaginação correu solta: 'Que terá acontecido à velha? Será que está doente? Mudou-se?

       É, de novo a maldita curiosidade. De novo digo: Não é da minha conta.
       Mas, infelizmente, não consigo agora, deixar de olhar a calçada cheia de folhas e procurar a velha senhora maltrapilha e triste, a passar sua vassoura de palha entre as folhas, lutando contra o vento e contra os anos.

2 conexões sinápticas:

Jéssica Caroline disse...

Que bonito, Giu!
Isso me lembra de uma senhorinha que eu também via, todos os dias, ao ir para a Escola. Não era maltrapilha; era bem vestida, e seu cachorro também tinha roupinha.
Ela conversava com seu cachorro enquanto o levava para passear, contava sobre os filhos, sobre os causos da vida, como se falasse com uma pessoa...

Ah, os mistérios humanos.

Anônimo disse...

Fiquei curioso pra saber o que aconteceu com a velha senhora. Mas isso me faz lemba q a cada dia observamos pessoas diferente. Gostei do seu pensamento more.
Wesley Andrés

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